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16.1.10

Família X Dependência Química


A família sempre foi indispensável no sentido de ter um significado de civilização e, naturalmente, também a sua dinâmica teve que ser revista.
Em relação à dependência química, percebe-se que dentro da família tem significado até mesmo de "sintoma de que algo não vai bem" e a pessoa com dependência química é, muitas vezes, levada a assumir-se como anunciadora da doença familiar. Fica impossível então tratar a dependência química sem rever a dinâmica familiar e sem evolvê-la no processo de tratamento.
Mas como entender o sistema familiar enquanto vivenciando o problema da dependência química? Incluí-la é indispensável e um primeiro passo.
A família é um grupo e como tal é um sistema de relações e, sendo assim, o uso de drogas por algum membro terá repercussão direta no restante do grupo.
A família acometida pela dependência química passa por etapas assim como o próprio sujeito que a sofre. Essas etapas são descritas como a negação inicial onde ninguém fala aquilo que realmente pensa. Em seguida a família passa a tentar controlar a droga utilizando-se dos "segredos" seguidos de um caos total onde os papéis vão se confundir ainda mais.
A família ressentida, desacreditada, envergonhada contrasta, muitas vezes, com o dependente negando sua condição defensivamente, e todo esse movimento desune e um grande desgaste emocional se instala.
Cada família terá uma maneira própria de reações frente à entrada da droga. A crise atinge o insuportável quando então o uso de drogas é revelado, seja por terceiros ou pelo próprio dependente que já não se dá conta de que deixa indícios por onde vai. Apesar disso os laços parecem manter-se e isso pode ser explicado pela própria dependência entre os membros familiares seja de ordem emocional ou financeira.
Nessas famílias a influência do meio se dá repleta de cenas relacionadas ao uso de álcool ou drogas e os descendentes poderão repetir tais cenas tendo confirmada essa influência, impossibilitados de construírem novos ritos (saudáveis) até que então possa entrar em cena o trabalho dos profissionais.
Os sistemas familiares de usuários de drogas caracterizam-se pela presença do uso em varias gerações, pela qualidade simbiótica de relação entre mãe e filho que se estende, histórico de mortes inesperadas na família e uma pseudo-individuação que é buscada pelos membros dentro de uma fragilidade de regras e limites distorcidos.
É comum encontrar nas famílias de dependentes químicos a falta de barreiras entre as gerações, nível de individuação precário e inversão de papéis, a crença de que o que vem acontecendo é "coisa do destino" e em conseqüência disso o comodismo, o desentendimento do casal parental e as alianças secretas entres os membros.
O próprio ciclo de vida familiar é parâmetro na identificação de variáveis relacionadas aos problemas de abuso de drogas. Geralmente a formação do casal é precoce e muitas vezes decorrem de uma gravidez inesperada, adolescentes filhos de pais de meia idade não preparados para lidar com situações de transição e mudanças, e os grupos de amigos – que para o jovem servirá de diferenciação dos pais – num meio onde a disponibilidade das drogas aumenta a cada dia contribuindo para uma maior vulnerabilidade desse jovem.
Geralmente famílias com dependentes químicos não mudam, não evoluem, ficam paralisadas por não conseguirem elaborar perdas e ganhos. posteriormente, seguindo a linha de amadurecimento da família, deveria ocorrer que os filhos construíssem suas próprias famílias e os avós descansassem, mas nas famílias com dependência química o que vai acontecer é que os avós terão que cuidar dos netos e dos filhos, e a família irá aumento o número de agregados (genros e noras) embora a sensação de vazio siga.

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